sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

EFEMÉRIDE

A 31 de Janeiro de 1891, nasce, em São Vicente, Cabo Verde, o poeta português Luís Montalvor, pseudónimo de Luís da Silva Ramos. Pertenceu ao grupo modernista, tendo sido um dos fundadores da revista Orfeu.
Fernando Pessoa escreveu acerca deste poeta pouco conhecido:
" Há duas espécies de poetas — os que pensam o que sentem, e os que sentem o que pensam.
A terceira espécie apenas pensa ou sente, e não escreve versos, sendo por isso que não existe.
Aos poetas que pensam o que sentem chamamos românticos; aos poetas que sentem o que pensam chamamos clássicos. A definição inversa é igualmente aceitável.
Em Luís de Montalvor (Luís da Silva Ramos), autor de um livro de POEMAS a aparecer em breve, a sensibilidade se confunde com a inteligência — como em Mallarmé, porém diferentemente — para formar uma terceira faculdade da alma, infiel às definições. Tanto podemos dizer que ele pensa o que sente, como que sente o que pensa. Realiza, como nenhum outro poeta vivo, nosso ou estranho, a harmonia entre o que a razão nega e o que a sensibilidade desconhece. O resultado — poemas subtis, irreais, quase todos admiráveis — pode confundir os que esperam encontrar na originalidade um velho conhecimento, e no imprevisto o que já sabiam. Mas para os que esperam o que nunca chega, e por isso o alcançam, a surpresa dos seus versos é a surpresa da própria inteligência em se encontrar sempre diferente de si mesma, e em verificar sempre de novo que cada homem é, em sua essência, um conceito do universo diferente de todos os outros. E como, visto que tudo é essencialmente subjectivo, um conceito do universo é ele mesmo o próprio universo, cada homem é essencialmente criador. Resta que saiba que o é, e que saiba mostrar que o sabe: é a essa expressão, quando profunda, que chamamos poesia.
Não nos ilude Luís de Montalvor na expressão essencial dos seus versos: vive num mundo seu, como todos nós; mas vive com vida num mundo seu, ao passo que a maioria, em verso ou prosa, morre o universo que involuntariamente cria.
Palavras estranhas, porém verdadeiras. Como poderiam ser verdadeiras se não fossem estranhas? "
1927
Textos de Crítica e de Intervenção . Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1980. - 155.

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